A Síndrome do Trato Iliotibial (STIT), também conhecida como Síndrome do Corredor, é uma das principais causas de dor lateral no joelho, especialmente em corredores e ciclistas. Caracteriza-se pela inflamação ou irritação do trato iliotibial (TIT), uma estrutura fibrosa que se estende da pelve até a tíbia, passando pela lateral do joelho.
Embora seja uma lesão comum, seu tratamento requer um manejo adequado, considerando fatores biomecânicos, fraquezas musculares e padrões de movimento alterados. Neste artigo, exploraremos os principais pontos para um tratamento eficiente da STIT, com base nas melhores evidências científicas disponíveis.
O que é a Síndrome do Trato Iliotibial?
A STIT ocorre devido ao atrito excessivo do trato iliotibial sobre o epicôndilo lateral do fêmur durante a flexão e extensão repetitiva do joelho, comum em atividades como corrida e ciclismo. Essa fricção leva a inflamação e dor, comprometendo o desempenho esportivo e até mesmo atividades diárias.
Principais Causas e Fatores de Risco
- Treinamento excessivo ou erro de carga (aumento abrupto no volume ou intensidade da corrida).
- Biomecânica alterada, como desalinhamento dos membros inferiores e fraqueza muscular.
- Disfunções musculares, especialmente fraqueza do glúteo médio e quadríceps.
- Superfícies inclinadas ou terrenos irregulares, que aumentam a tensão no TIT.
Diagnóstico e Avaliação
Sinais e Sintomas
Os pacientes com STIT frequentemente relatam:
- Dor lateral no joelho que piora com a corrida, especialmente ao descer ladeiras.
- Dor ao toque no epicôndilo lateral do fêmur.
- Ausência de inchaço significativo (diferente de lesões intra-articulares, como condromalácia).
Testes Clínicos
- Teste de Ober – Avalia a flexibilidade do trato iliotibial.
- Teste de Renne – O paciente realiza um agachamento unilateral e a dor lateral no joelho confirma o diagnóstico.
- Teste de Noble – Pressiona-se o epicôndilo lateral do fêmur enquanto o joelho flexiona e estende. A dor indica irritação do TIT.
Embora exames de imagem como ressonância magnética possam ser úteis para descartar outras lesões, o diagnóstico da STIT é clínico.
Tratamento Baseado em Evidências
O tratamento da STIT deve seguir uma abordagem progressiva, dividida em três fases principais: controle da dor, reabilitação funcional e retorno ao esporte.
1. Controle da Dor e Redução da Inflamação
Na fase inicial, o foco é reduzir a dor e a inflamação para permitir o progresso para exercícios mais ativos.
Estratégias recomendadas:
✅ Modificação da carga: Reduzir temporariamente atividades que exacerbam os sintomas, como corrida intensa e descidas.
✅ Crioterapia: Aplicação de gelo por 10 a 15 minutos após atividades para alívio sintomático.
✅ Uso de AINEs (anti-inflamatórios não esteroides): Apenas quando necessários e sob orientação médica.
✅ Liberação miofascial: Uso de rolos de liberação para reduzir a tensão no trato iliotibial, especialmente se houver pontos-gatilho ativos.
🛑 O que evitar?
- Repouso absoluto por longos períodos, pois pode levar à atrofia muscular e piorar a biomecânica.
- Alongamentos excessivos do trato iliotibial, que podem aumentar a irritação.
2. Reabilitação Funcional: Corrigindo a Biomecânica e o Controle Motor
Após o controle da dor, inicia-se a fase de reabilitação, que visa corrigir disfunções musculares e padrões de movimento inadequados.
Exercícios Essenciais:
🔹 Fortalecimento do glúteo médio e quadríceps – Estudos demonstram que fraqueza nesses músculos está associada à STIT, pois aumenta a adução e rotação interna do quadril durante a corrida .
✅ Exercícios indicados:
- Ponte unilateral
- Clamshell com resistência
- Agachamento lateral com miniband
- Avanço lateral
🔹 Treinamento de estabilidade e propriocepção – Essencial para melhorar o controle motor e reduzir o impacto sobre o joelho.
✅ Exemplos:
- Equilíbrio unipodal em superfícies instáveis
- Drop jumps controlados
- Exercícios de reação rápida
🔹 Correção da biomecânica da corrida
- Evitar passadas muito longas (overstriding).
- Aumentar a cadência para reduzir o impacto no joelho.
- Ajustar o alinhamento de quadril e joelho para reduzir a carga no TIT.
Uma revisão sistemática publicada na Cochrane Library concluiu que programas de reabilitação com ênfase na ativação do glúteo médio e no controle motor do quadril são eficazes para reduzir a dor e melhorar a função em corredores com STIT .
3. Retorno Seguro ao Esporte
A última fase do tratamento é gradativa e personalizada para que o atleta retorne à prática esportiva de forma segura.
Critérios para Retorno:
✅ Ausência de dor em atividades diárias e treinos leves.
✅ Força e estabilidade restauradas nos testes funcionais.
✅ Correção biomecânica eficiente – Aplicação dos ajustes na corrida sem desconforto.
A reintrodução da corrida deve ser feita com progressão de volume e intensidade. Estudos sugerem que corredores com STIT se beneficiam de um aumento progressivo de 10% por semana no volume de corrida para evitar recidivas .
utras Intervenções Complementares
✔️ Bandagens funcionais e kinesio taping – Auxiliam na redução da carga sobre o trato iliotibial, podendo ser úteis no retorno ao esporte.
✔️ Ondas de choque – Indicações restritas para casos crônicos refratários ao tratamento convencional.
✔️ Terapia manual – Massagens e mobilizações articulares podem complementar a abordagem, mas não substituem os exercícios ativos.
🛑 O que NÃO funciona?
- Alongamentos excessivos do trato iliotibial – Podem aumentar a irritação.
- Uso prolongado de anti-inflamatórios – Não trata a causa do problema e pode mascarar sintomas.
Conclusão: O Que Dizem as Evidências?
A Síndrome do Trato Iliotibial é uma lesão comum, mas pode ser tratada de forma eficaz com uma abordagem baseada em evidências científicas.
🔹 Os pilares do tratamento incluem:
✅ Redução da dor sem repouso absoluto.
✅ Correção de déficits musculares, especialmente no glúteo médio.
✅ Ajustes biomecânicos na corrida e na carga de treino.
✅ Retorno progressivo ao esporte, evitando recidivas.
Ao seguir essas diretrizes, corredores e atletas podem recuperar seu desempenho e minimizar o risco de novas lesões.
Referências Científicas
- Fredericson, M., & Weir, A. “Practical management of iliotibial band syndrome in runners.” British Journal of Sports Medicine, 2006. Acesse o artigo completo
- van der Worp, M. P., et al. “The aetiology of iliotibial band syndrome: a systematic review.” Sports Medicine, 2012. Acesse o artigo completo
- Noehren, B., et al. “The role of hip muscle function in the development of iliotibial band syndrome in distance runners.” Clinical Biomechanics, 2007. Acesse o artigo completo
Com um tratamento bem estruturado e baseado na ciência, a STIT pode ser superada de forma eficaz, garantindo um retorno seguro e duradouro ao esporte. 🚀