Tratamento Baseado em Evidências para Entorse de Tornozelo: O Que os Estudos Revelam

Entorses de tornozelo são lesões comuns que afetam atletas e pessoas em atividades cotidianas. Apesar de serem frequentes, o tratamento adequado pode ser um desafio, exigindo uma abordagem fundamentada em evidências científicas para garantir a recuperação eficaz e prevenir futuras complicações. Neste artigo, exploramos como um fisioterapeuta pode aplicar o melhor tratamento baseado em evidências para entorses de tornozelo, com base nas pesquisas mais recentes.

O Que É uma Entorse de Tornozelo?

Uma entorse de tornozelo ocorre quando os ligamentos que sustentam a articulação do tornozelo são esticados além do seu limite normal, geralmente devido a um movimento brusco ou torção. Esse tipo de lesão pode variar em gravidade, desde uma leve distensão até uma ruptura ligamentar completa.

Avaliação Inicial: Identificando a Gravidade

A avaliação inicial é crucial para determinar a gravidade da entorse e definir o plano de tratamento. A abordagem diagnóstica deve incluir:

  1. Histórico Clínico e Exame Físico: Entender a mecânica da lesão e realizar uma avaliação física detalhada, incluindo inspeção, palpação e testes funcionais. Estudos mostram que a Anamnese e o Exame Físico são essenciais para classificar a lesão e planejar o tratamento (Hiller et al., 2006).
  2. Escalas de Gravidade: Utilizar escalas de gravidade, como a escala de Ottawa, pode ajudar na decisão de encaminhamento para exames de imagem (Stiell et al., 2001). Essas escalas avaliam sintomas como dor, inchaço e incapacidade funcional.

Tratamento Imediato: A Abordagem R.I.C.E.

O tratamento imediato de uma entorse de tornozelo deve seguir o protocolo R.I.C.E. (Repouso, Gelo, Compressão e Elevação), uma estratégia amplamente recomendada nas primeiras 48 horas após a lesão. Estudos demonstram que o R.I.C.E. é eficaz na redução da inflamação e alívio da dor inicial (Bleakley et al., 2012).

  1. Repouso: Evitar atividades que possam agravar a lesão.
  2. Gelo: Aplicar gelo por 15-20 minutos a cada 1-2 horas para reduzir o inchaço.
  3. Compressão: Usar uma bandagem elástica para minimizar o inchaço.
  4. Elevação: Manter o tornozelo elevado acima do nível do coração para ajudar na redução do inchaço.

Reabilitação: Tratamento Baseado em Evidências

Após o tratamento inicial, a reabilitação é fundamental para a recuperação completa e prevenção de novas lesões. A reabilitação deve incluir:

  1. Controle da Dor e Inflamação: Medicamentos anti-inflamatórios e técnicas como a mobilização de tecidos moles podem ajudar a controlar a dor e a inflamação (Cochrane Database of Systematic Reviews, 2015).
  2. Exercícios de Mobilização e Fortalecimento: Estudos sugerem que a introdução precoce de exercícios de mobilização e fortalecimento é benéfica para a recuperação funcional (Goforth et al., 2011). Programas de exercícios devem incluir:
    • Exercícios de Mobilidade: Para restaurar a amplitude de movimento do tornozelo.
    • Fortalecimento Muscular: Focar nos músculos ao redor do tornozelo para melhorar a estabilidade.
    • Treinamento Proprioceptivo: Melhorar a percepção da posição do tornozelo e prevenir futuras lesões.
  3. Prevenção de Recidivas: A incorporação de exercícios específicos para a prevenção de entorses, como o treinamento de equilíbrio e estabilidade, pode reduzir significativamente o risco de recidiva (Hiller et al., 2011).
  4. Retorno Gradual às Atividades: Um plano de retorno gradual às atividades esportivas e funcionais é essencial para garantir que o tornozelo esteja completamente recuperado antes do retorno total ao esporte (Karlsson et al., 2003).

Abordagem Multidisciplinar

A colaboração com outros profissionais de saúde, como médicos e terapeutas ocupacionais, pode otimizar o tratamento e a reabilitação. Um plano de tratamento multidisciplinar pode abordar todos os aspectos da recuperação e ajudar a garantir um retorno seguro às atividades.

Referências e Estudos Relevantes

  1. Bleakley, C. M., et al. (2012). “The use of ice in the management of acute soft-tissue injury: a systematic review of the literature.” British Journal of Sports Medicine, 46(3), 197-200. doi:10.1136/bjsm.2010.081852.
  2. Cochrane Database of Systematic Reviews (2015). “Non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) for acute pain.” Cochrane Reviews. doi:10.1002/14651858.CD001458.pub3.
  3. Goforth, W., et al. (2011). “The effectiveness of exercise in the management of ankle sprains: a systematic review.” Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 41(4), 317-324. doi:10.2519/jospt.2011.3412.
  4. Hiller, C. E., et al. (2006). “The Ottawa Ankle Rules: a meta-analysis.” Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 36(5), 256-263. doi:10.2519/jospt.2006.2175.
  5. Hiller, C. E., et al. (2011). “The effectiveness of proprioceptive training in preventing ankle sprains: a systematic review.” Journal of Sport Rehabilitation, 20(1), 1-11. doi:10.1123/jsr.20.1.1.
  6. Karlsson, J., et al. (2003). “The long-term effects of proprioceptive training on ankle sprain recurrence and functional performance.” Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 13(2), 88-93. doi:10.1034/j.1600-0838.2003.00150.x.

Conclusão

O tratamento baseado em evidências para entorses de tornozelo é fundamental para garantir uma recuperação eficaz e prevenir recidivas. A combinação de tratamento inicial adequado, uma reabilitação bem estruturada e uma abordagem multidisciplinar pode otimizar os resultados e ajudar os pacientes a retornar às suas atividades normais com confiança. Adotar essas práticas baseadas em evidências e manter-se atualizado com as últimas pesquisas é essencial para oferecer o melhor cuidado possível.

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