Recentemente, o COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) reconheceu, de forma definitiva, que o fisioterapeuta possui plena competência para a prescrição, administração e aquisição de medicamentos e insumos, sem restrição à exclusividade de outras profissões da saúde. Essa decisão tem gerado debates acalorados na comunidade de saúde, e como fisioterapeuta, sinto-me compelido a expressar minha preocupação em relação a essa mudança.

Formação Acadêmica e Competência Técnica
A formação em fisioterapia é robusta e focada no desenvolvimento de habilidades relacionadas ao movimento humano, reabilitação física e promoção da saúde. No entanto, não somos treinados extensivamente em farmacologia durante a graduação. O currículo típico de um fisioterapeuta inclui apenas noções básicas sobre medicamentos, insuficientes para uma prática segura de prescrição.
Comparativamente, profissionais como médicos e farmacêuticos passam por anos de estudo aprofundado em farmacologia, interações medicamentosas e efeitos colaterais. Essa lacuna educacional coloca em xeque a capacidade do fisioterapeuta de prescrever medicamentos de forma segura e eficaz.
Segurança do Paciente em Primeiro Lugar
A prioridade máxima em qualquer prática de saúde deve ser a segurança do paciente. A prescrição inadequada de medicamentos pode levar a reações adversas graves, interações medicamentosas perigosas e até risco de vida. Sem o treinamento adequado, o fisioterapeuta pode, inadvertidamente, expor o paciente a esses riscos.
Estudos publicados na Revista Brasileira de Farmacologia destacam que erros na prescrição são responsáveis por uma porcentagem significativa de eventos adversos em ambientes clínicos. Sem a devida capacitação, a probabilidade de erros aumenta, comprometendo a segurança e a confiança que os pacientes depositam em nós.
Respeito às Áreas de Atuação Profissional
Cada profissão na área da saúde tem seu escopo de prática bem definido, baseado em competências e habilidades específicas. Ao adentrar áreas tradicionais de outras profissões, como a medicina ou a farmacologia, corremos o risco de diluir a qualidade do cuidado oferecido aos pacientes e gerar conflitos interprofissionais.
A colaboração entre profissionais é fundamental para um atendimento integral. Em vez de expandirmos nossas atribuições para além da nossa expertise, deveríamos fortalecer o trabalho em equipe, referenciando pacientes quando necessário e valorizando as contribuições únicas de cada profissão.
Foco na Excelência da Fisioterapia
A fisioterapia tem um papel crucial na reabilitação e melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Nossas intervenções, baseadas em evidências científicas, são poderosas e efetivas sem a necessidade de prescrição medicamentosa. Ao focarmos em nossas competências centrais, podemos continuar a inovar e oferecer cuidados de alta qualidade.
Desviar nosso foco para áreas nas quais não somos plenamente competentes pode levar à perda de identidade profissional e diminuição da qualidade dos serviços prestados.
Alternativas Viáveis e Soluções Propostas
- Educação Continuada: Se a prescrição de medicamentos for considerada uma atribuição necessária, seria imprescindível a criação de programas de educação continuada robustos em farmacologia para fisioterapeutas, algo que demandaria tempo e recursos significativos.
- Fortalecimento da Interdisciplinaridade: Promover uma maior integração entre fisioterapeutas, médicos e farmacêuticos, garantindo que cada profissional atue dentro de sua área de competência, proporcionando um cuidado mais seguro e eficaz.
- Protocolos de Referência: Estabelecer protocolos claros para a referência de pacientes a outros profissionais quando a intervenção medicamentosa for necessária, assegurando que o paciente receba o tratamento mais adequado.
Conclusão
Embora a decisão do COFFITO possa parecer uma evolução na prática fisioterapêutica, é crucial ponderarmos sobre as implicações éticas, técnicas e de segurança envolvidas. Sem o treinamento adequado em farmacologia, a prescrição de medicamentos por fisioterapeutas pode representar um risco significativo para os pacientes.
Devemos valorizar nossa profissão, fortalecendo nossas competências essenciais e colaborando com outros profissionais de saúde para oferecer o melhor cuidado possível. A segurança e o bem-estar dos pacientes devem ser sempre a nossa prioridade máxima.