Por Que a Rotação Vertebral é um Mito: O Perigo do Nocebo na Fisioterapia

Quando se trata de dor na coluna vertebral, é comum ouvir frases como “sua vértebra está fora do lugar” ou “essa vértebra precisa ser ajustada porque está rodando.” Essas declarações, muitas vezes feitas por fisioterapeutas manuais, osteopatas e quiropráticos, têm o potencial de causar mais danos do que benefícios. Vamos explorar por que essa ideia de “rotação vertebral” não apenas é incorreta, mas também pode ser prejudicial para a saúde mental e física dos pacientes.

O Mito da Rotação Vertebral

A ideia de que as vértebras “rodam” ou “deslocam-se” é, na melhor das hipóteses, uma simplificação exagerada e, na pior, um completo mito. A coluna vertebral é uma estrutura extremamente complexa, composta por vértebras, discos intervertebrais, ligamentos, músculos e nervos que funcionam de forma integrada para permitir o movimento e a flexibilidade. A ciência atual nos mostra que, embora pequenas mudanças na posição das vértebras possam ocorrer devido a movimentos normais, afirmar que uma vértebra está “fora do lugar” é impreciso.

Estudos biomecânicos de alta qualidade, como o publicado na European Spine Journal, mostram que a mobilidade vertebral é natural e esperada, sem que isso signifique necessariamente um desalinhamento ou uma rotação que precise de “correção” manual (Ref: European Spine Journal). A ideia de “ajustar” a vértebra pode induzir um nocebo, que é um efeito psicológico negativo que ocorre quando o paciente acredita que sua condição é pior do que realmente é.

O Perigo do Nocebo

O termo “nocebo” refere-se ao efeito adverso que as palavras ou atitudes de um profissional de saúde podem ter sobre um paciente. Quando um terapeuta diz a um paciente que sua vértebra está “rodando” ou “fora do lugar,” ele pode, inadvertidamente, criar um ciclo de medo e ansiedade. O paciente pode começar a acreditar que seu corpo é frágil ou defeituoso, o que pode exacerbar a dor e levar a um comportamento de evitação, onde ele evita movimentos normais por medo de “desalinhamento” ou lesão.

Um estudo publicado no Journal of Pain Research destacou que a linguagem usada pelos profissionais de saúde pode ter um impacto significativo na experiência de dor do paciente. Pacientes que são informados de que algo está “errado” em sua coluna muitas vezes relatam mais dor e pior função física (Ref: Journal of Pain Research).

A Abordagem Biopsicossocial

Em vez de focar em conceitos de “rotação” ou “desalinhamento,” é mais eficaz adotar o modelo biopsicossocial para tratar dores na coluna. Esse modelo considera não apenas os fatores físicos, mas também os aspectos psicológicos e sociais que podem contribuir para a dor. Por exemplo, o estresse, a ansiedade e até as interações sociais podem afetar a percepção da dor.

Estudos indicam que a dor crônica, especialmente a dor nas costas, está frequentemente relacionada a fatores como estresse emocional e falta de atividade física, em vez de problemas estruturais na coluna (Ref: Lancet). Promover a compreensão de que o movimento é seguro e necessário pode ajudar os pacientes a recuperar a confiança em seus corpos e reduzir a dor.

O Que os Profissionais de Saúde Devem Fazer

Como fisioterapeutas, osteopatas e quiropráticos, é essencial que evitemos o uso de linguagem que possa induzir nocebos. Em vez de falar sobre vértebras que “rodam,” devemos educar os pacientes sobre a natureza funcional e adaptável da coluna vertebral. Devemos enfatizar a importância do movimento, da atividade física e do bem-estar psicológico como parte do tratamento da dor.

1. Eduque os Pacientes: Explique a anatomia da coluna de forma simples e clara, desmistificando a ideia de que as vértebras podem “sair do lugar.”

2. Promova o Movimento: Incentive os pacientes a se manterem ativos e a não terem medo de se mover, mesmo que sintam dor.

3. Aborde Fatores Psicossociais: Considere o estresse, a ansiedade e outros fatores emocionais que podem estar contribuindo para a dor do paciente.

4. Use Linguagem Positiva: Evite termos alarmistas e foque em palavras que transmitam segurança e encorajamento.

Conclusão

É hora de abandonar o mito da “rotação vertebral” e adotar uma abordagem mais baseada em evidências e centrada no paciente. Ao focar no modelo biopsicossocial e evitar a indução de nocebos, podemos ajudar nossos pacientes a superar a dor de forma mais eficaz e melhorar sua qualidade de vida.

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