Dor Lombar Crônica: Por que seu Exame de Imagem Nem Sempre Explica a Dor

​Receber um laudo de ressonância magnética com termos como “hérnia de disco”, “protusão discal”, “degeneração” ou “bico de papagaio” pode ser alarmante para muitos pacientes. No entanto, é fundamental compreender que essas alterações são frequentemente encontradas em indivíduos assintomáticos, ou seja, pessoas que não apresentam dor ou limitações funcionais. Este artigo tem como objetivo esclarecer a relação entre achados de imagem e sintomas clínicos, destacando a importância de uma abordagem baseada em evidências para o manejo da dor lombar.

Achados de Imagem em Indivíduos Assintomáticos

Estudos científicos têm demonstrado que alterações degenerativas na coluna vertebral são comuns em pessoas sem sintomas. Uma revisão sistemática publicada no American Journal of Neuroradiology por Brinjikji et al. (2015) revelou que:​

  • 50% dos indivíduos com 30 anos apresentam degeneração discal;​
  • 60% dos indivíduos com 50 anos possuem protusões discais;​
  • 80% dos indivíduos com 80 anos apresentam degeneração facetária.​

Esses dados indicam que tais alterações podem ser parte do processo natural de envelhecimento e nem sempre estão associadas à dor.

A Complexidade da Dor Lombar

A dor lombar é uma condição multifatorial, influenciada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Fatores como estresse, sedentarismo, postura inadequada e questões emocionais podem contribuir significativamente para o quadro doloroso. Portanto, basear o tratamento exclusivamente nos achados de imagem pode levar a abordagens inadequadas.

Interpretação dos Exames de Imagem

É essencial que os profissionais de saúde interpretem os exames de imagem em conjunto com a avaliação clínica do paciente. A presença de alterações degenerativas na ressonância magnética não deve ser, por si só, motivo de preocupação ou indicação para procedimentos invasivos. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Reumatologia destaca que a prevalência de alterações degenerativas em exames de imagem de indivíduos assintomáticos é alta, e tais achados não devem ser supervalorizados isoladamente.

Abordagem Baseada em Evidências para o Tratamento da Dor Lombar

Diante da complexidade da dor lombar, uma abordagem multidisciplinar e baseada em evidências é recomendada. As estratégias incluem:​

  • Exercícios Terapêuticos: Atividade física regular pode ajudar a fortalecer a musculatura estabilizadora da coluna, melhorar a flexibilidade e reduzir a dor.​
  • Educação do Paciente: Informar o paciente sobre a natureza da dor lombar e a relevância dos achados de imagem pode reduzir a ansiedade e promover o engajamento no tratamento.​
  • Terapias Cognitivo-Comportamentais: Abordagens que visam modificar pensamentos e comportamentos relacionados à dor têm mostrado eficácia na redução da dor crônica.​
  • Uso Racional de Medicamentos: Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser utilizados de forma criteriosa, sempre considerando os riscos e benefícios.​

É importante destacar que intervenções invasivas, como cirurgias, devem ser consideradas apenas em casos específicos, quando há indicação clara e após falha de tratamentos conservadores.

Conclusão

Achados de imagem como “hérnia de disco”, “protusão” e “degeneração” são comuns em indivíduos assintomáticos e não devem ser motivo de alarme imediato. A dor lombar é uma condição multifatorial que requer uma abordagem individualizada e baseada em evidências. A interpretação cuidadosa dos exames, aliada a uma avaliação clínica completa, é fundamental para o manejo adequado da dor lombar. Pacientes e profissionais de saúde devem trabalhar juntos para desenvolver um plano de tratamento que considere não apenas os achados de imagem, mas também os aspectos clínicos e psicossociais envolvidos.​

Referências:

Nota: As referências acima são exemplos e devem ser atualizadas conforme a literatura científica mais recente.

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