Como Avaliar e Tratar Lesões do Ligamento Colateral Medial (LCM) do Joelho: Abordagem Baseada em Evidências Científicas

As lesões do ligamento colateral medial (LCM) do joelho são comuns, especialmente em esportes que envolvem movimentos bruscos e mudanças de direção, como futebol, basquete e esqui. Essas lesões variam em gravidade, desde pequenas distensões até rupturas completas, e afetam diretamente a estabilidade do joelho. Saber como avaliar e tratar essas lesões de maneira eficaz é fundamental para o fisioterapeuta que trabalha com disfunções musculoesqueléticas.

Este texto discute as melhores práticas para a avaliação e tratamento das lesões do LCM, com base em pesquisas científicas de alta qualidade.

Anatomia e Função do Ligamento Colateral Medial (LCM)

O ligamento colateral medial é um dos principais estabilizadores do joelho, responsável por resistir às forças em valgo (forças que empurram o joelho para dentro) e contribuir para a estabilidade articular. Ele conecta o fêmur à tíbia e pode ser lesionado em traumas diretos (como um impacto no lado externo do joelho) ou por movimentos excessivos que forçam o joelho em valgo.

A avaliação cuidadosa é o primeiro passo para determinar o grau da lesão, que pode ser classificada em três graus:

  • Grau 1 (Leve): Pequena distensão do ligamento, sem rompimento significativo.
  • Grau 2 (Moderado): Ruptura parcial com alguma instabilidade do joelho.
  • Grau 3 (Grave): Ruptura completa, causando instabilidade considerável.

Avaliação de Lesões do Ligamento Colateral Medial

A avaliação correta da lesão do LCM é essencial para determinar o plano de tratamento mais adequado. A seguir estão as principais etapas para uma avaliação eficaz:

1. História Clínica

A história clínica do paciente pode fornecer informações valiosas sobre o mecanismo da lesão. A maioria das lesões do LCM ocorre devido a um trauma direto ou movimentos de rotação forçada, como uma mudança abrupta de direção. Perguntar sobre a localização da dor e se o paciente percebeu um “estalo” no momento da lesão pode ajudar a identificar a gravidade da lesão.

2. Exame Físico

O exame físico é crucial para confirmar o diagnóstico. A palpação do ligamento ao longo de sua inserção pode revelar dor localizada. O teste do estresse em valgo é uma manobra comum usada para avaliar a integridade do LCM. Com o paciente em decúbito dorsal e o joelho em ligeira flexão (20-30 graus), aplica-se uma força em valgo na articulação. A presença de dor ou movimento excessivo em comparação com o lado não lesionado indica uma lesão do LCM .

3. Exames de Imagem

Embora o exame clínico seja geralmente suficiente para o diagnóstico de lesões do LCM, exames de imagem, como ressonância magnética (RM), podem ser indicados em casos mais graves ou em lesões associadas, como lesões no ligamento cruzado anterior (LCA) ou meniscos. A RM é considerada o padrão-ouro para avaliar a extensão da lesão e a presença de outras lesões associadas .

Tratamento das Lesões do Ligamento Colateral Medial

O tratamento das lesões do LCM depende da gravidade da lesão e da condição física do paciente. De maneira geral, o tratamento pode ser dividido em três fases: fase aguda, fase de recuperação e fase de retorno às atividades. As intervenções baseadas em evidências científicas são essenciais para garantir uma recuperação eficiente e o retorno seguro à prática esportiva.

1. Fase Aguda: Controle da Dor e da Inflamação

Imediatamente após a lesão, o objetivo principal é controlar a dor e a inflamação, permitindo que o paciente inicie a recuperação de forma segura.

  • Proteção, Descanso, Gelo, Compressão e Elevação (PRICE): Esse protocolo é amplamente recomendado para reduzir o inchaço e a dor nas primeiras 48 a 72 horas após a lesão .
  • Mobilização Precoce Controlada: A imobilização prolongada do joelho não é recomendada, exceto em casos de lesão grave. Mobilização precoce dentro de limites seguros é essencial para evitar rigidez articular e perda de função. O uso de uma órtese articulada pode ajudar a estabilizar o joelho sem restringir completamente o movimento.

2. Fase de Recuperação: Reabilitação Funcional

Uma vez controlados os sintomas agudos, o foco passa a ser a restauração da função articular, incluindo a força, a flexibilidade e a propriocepção.

  • Exercícios de Fortalecimento Muscular: Fortalecer os músculos ao redor do joelho, especialmente o quadríceps e os músculos isquiotibiais, é essencial para suportar a articulação e prevenir novas lesões. Os exercícios isométricos podem ser usados inicialmente, progredindo para exercícios isotônicos conforme a tolerância do paciente .
  • Treinamento Proprioceptivo: As lesões do LCM afetam a estabilidade do joelho, tornando o treino proprioceptivo crucial para restaurar o controle neuromuscular e prevenir recidivas. Exercícios em superfícies instáveis, como o uso de discos de equilíbrio, podem ser incorporados para melhorar a propriocepção .
  • Alongamento Controlado: Manter a amplitude de movimento (ADM) é importante para evitar rigidez no joelho. Alongamentos controlados, sem dor, podem ser realizados com foco em manter a flexibilidade da musculatura ao redor da articulação.

3. Fase de Retorno às Atividades: Treinamento Funcional

Quando a função muscular e a estabilidade articular foram restauradas, o paciente pode começar a reintroduzir atividades específicas de sua modalidade esportiva.

  • Exercícios Funcionais: Exercícios que simulam os movimentos esportivos são essenciais para garantir que o paciente esteja pronto para retornar ao esporte. Movimentos de agachamento, saltos e mudanças de direção devem ser gradualmente reintroduzidos para preparar o atleta para as exigências do esporte .
  • Critérios para Retorno ao Esporte: O retorno ao esporte deve ser baseado em critérios objetivos, incluindo a ausência de dor, estabilidade articular e a recuperação total da força e da amplitude de movimento. Estudos indicam que o retorno prematuro às atividades pode aumentar o risco de recidiva da lesão .

Intervenções Complementares para Lesões do LCM

Além das intervenções tradicionais mencionadas, algumas modalidades adicionais podem ser úteis no tratamento de lesões do LCM:

  • Terapias de Modalidades Físicas: Modalidades como eletroterapia e laser de baixa intensidade têm sido utilizadas no tratamento de lesões ligamentares. Embora suas evidências sejam limitadas, alguns estudos indicam que essas terapias podem ajudar a acelerar o processo de cicatrização quando usadas como complemento às intervenções de reabilitação .
  • Terapia Manual: A terapia manual, incluindo técnicas de mobilização de tecidos moles e liberação miofascial, pode ser usada para melhorar a mobilidade do joelho e aliviar a dor durante o processo de reabilitação. Essas técnicas, quando associadas ao fortalecimento muscular, podem acelerar a recuperação funcional .

Conclusão

As lesões do ligamento colateral medial do joelho podem variar de leves a graves, e o tratamento eficaz depende de uma avaliação precisa e de intervenções baseadas em evidências. O fisioterapeuta tem um papel crucial na condução do tratamento e na reabilitação do paciente, garantindo que ele recupere a função completa e retorne de forma segura às suas atividades esportivas. Ao adotar uma abordagem baseada em evidências científicas, o profissional de saúde pode otimizar os resultados do tratamento e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Referências:

  1. LaPrade, R. F., et al. “Management of Medial Collateral Ligament Injuries of the Knee: Update on Injury Grade and Treatment Protocol.” J Bone Joint Surg Am. 2017. Acesse o artigo completo.
  2. Fetto, J. F., & Marshall, J. L. “Medial collateral ligament injuries of the knee: A rationale for treatment.” Clin Orthop Relat Res. 2016. Acesse o artigo completo.

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