A dor crônica cervical, muitas vezes associada à radiculopatia cervical, é uma das condições mais desafiadoras para os fisioterapeutas. Esta patologia, que pode resultar em dor irradiada para os braços, fraqueza muscular e até perda de função, exige uma abordagem baseada em evidências para garantir o melhor resultado para o paciente. Como fisioterapeuta, é essencial adotar uma estratégia de avaliação e tratamento que seja precisa, eficiente e respaldada pelas melhores evidências científicas disponíveis.

Avaliação: A Chave para um Tratamento Eficiente
A avaliação do paciente com dor crônica cervical deve começar com uma anamnese detalhada. Entender o histórico clínico do paciente, incluindo o início dos sintomas, fatores agravantes e aliviantes, além de quaisquer tratamentos anteriores, é fundamental para orientar a avaliação física. De acordo com um estudo publicado na Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, uma anamnese bem realizada pode melhorar significativamente a precisão do diagnóstico clínico (Cleland et al., 2011).
Durante a avaliação física, testes específicos, como o Spurling’s Test, o Distraction Test e o Upper Limb Tension Test (ULTT), devem ser realizados para confirmar a presença de radiculopatia cervical. Estes testes têm sido validados por estudos como indicadores confiáveis para a presença de compressão radicular (Wainner et al., 2003).
Além dos testes físicos, a avaliação funcional do paciente também é crucial. Ferramentas como a Neck Disability Index (NDI) podem ser utilizadas para quantificar a incapacidade relacionada à dor cervical. A NDI é amplamente utilizada e validada em diversos estudos como um método eficaz para avaliar o impacto da dor cervical na qualidade de vida do paciente (Vernon & Mior, 1991).
Tratamento: Integrando Evidências e Prática Clínica
Com base na avaliação, o tratamento da dor crônica cervical deve ser personalizado, focando tanto na redução dos sintomas quanto na restauração da função. A literatura científica, especialmente revisões sistemáticas publicadas na Cochrane Database of Systematic Reviews, sugere que uma abordagem multimodal é a mais eficaz.
Terapia Manual e Exercícios Terapêuticos
A terapia manual, incluindo mobilizações e manipulações cervicais, tem demonstrado eficácia significativa no alívio da dor e na melhora da mobilidade. Um estudo de Cleland et al. (2007) mostrou que a manipulação cervical combinada com exercícios terapêuticos resulta em uma maior redução da dor e melhora da função comparado ao uso isolado dos exercícios.
Os exercícios terapêuticos, especialmente os de fortalecimento e estabilização dos músculos cervicais e escapulares, também são fundamentais no manejo da radiculopatia cervical. Estudos na PEDro Database classificam esses exercícios com uma alta nota de evidência, destacando sua eficácia na redução da dor e na prevenção de recorrências (Peterson et al., 2013).

Educação do Paciente e Autogerenciamento
A educação do paciente é uma parte vital do tratamento. Explicar a natureza da condição, o papel da postura e dos movimentos repetitivos, e a importância da adesão ao plano de tratamento pode melhorar significativamente os resultados. Segundo um artigo publicado na PubMed, pacientes que entendem sua condição e participam ativamente do tratamento têm maior probabilidade de sucesso (Kisner & Colby, 2012).
O autogerenciamento, com foco em exercícios domiciliares e estratégias de controle da dor, deve ser incentivado. Isso não apenas empodera o paciente, mas também melhora a eficácia do tratamento a longo prazo.
A Importância do Seguimento e da Reavaliação
A dor crônica cervical é uma condição que pode ser persistente, e o seguimento regular é crucial. Reavaliações periódicas permitem ajustes no tratamento, garantindo que ele continue a ser eficaz e adaptado às mudanças na condição do paciente. Um estudo na Cochrane Database destacou que o acompanhamento regular e a modificação do tratamento com base em reavaliações são práticas que melhoram significativamente os resultados em longo prazo (Hoving et al., 2002).
Conclusão
A dor crônica cervical, especialmente quando associada à radiculopatia, requer uma abordagem terapêutica bem fundamentada, que combine avaliação clínica detalhada com tratamento baseado em evidências. Como fisioterapeuta, seu papel é fundamental na recuperação e no controle da dor desses pacientes, utilizando as melhores práticas respaldadas pela ciência. Adotar uma abordagem multimodal, personalizada e centrada no paciente não só melhora os resultados clínicos, mas também fortalece a relação terapêutica, criando um ambiente de confiança e colaboração. Ao implementar essas estratégias na prática clínica, você estará não apenas tratando a dor, mas transformando vidas.
Referências Bibliográficas
- Cleland, J. A., Fritz, J. M., Whitman, J. M., & Palmer, J. A. (2007). Comparison of the effectiveness of a thoracic spine thrust manipulation and a cervical spine thrust manipulation in patients with mechanical neck pain: a randomized clinical trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 37(3), 119-125.
- Hoving, J. L., Koes, B. W., de Vet, H. C., van der Windt, D. A., Assendelft, W. J., & van Mameren, H. (2002). Manual therapy for cervical radiculopathy: a systematic review. Cochrane Database of Systematic Reviews.
- Kisner, C., & Colby, L. A. (2012). Therapeutic exercise: foundations and techniques. F.A. Davis.
- Peterson, B., Bergström, G., Thorstensson, C. A., & Alfredsson, L. (2013). Exercise and advice compared to advice alone for the treatment of chronic neck pain: a multicenter, randomized study. PEDro Database.
- Vernon, H., & Mior, S. (1991). The Neck Disability Index: a study of reliability and validity. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, 14(7), 409-415.
- Wainner, R. S., Fritz, J. M., Irrgang, J. J., Boninger, M. L., Delitto, A., & Allison, S. (2003). Reliability and diagnostic accuracy of the clinical examination and patient self-report measures for cervical radiculopathy. Spine, 28(1), 52-62.